terça-feira, abril 2

Sem Título

Postado por Ariana Fernandes às 14:49 0 comentários
Brincadeiras bobas, e palavras casuais
- Vem, a vista lá de cima é mais bonita!
Nem chegaram até lá em cima,
Os pés já se encontram meio que sem querer,
e os pêlos do braço dele fazem aquela leve cócega ao encontrar os dela.
-Vem!
Ele a toma pela mão e a guia
Transboradaram.
Talvez porque no escuro a nudez é menos crua.
e num repente,
os olhos quase sempre mudos esparramaram poesia pelo chão.


Nomeei-lhe assim
Desta coisa sem nome
Pois não tinha título algum
Que pudesse lhe dar
Rabisquei-lhe uns traços
E lhe fiz de balbucias em verbos
Uns versos sem honras
Sem título ou mérito
Só pra não perder o hábito
De me desfazer
Em letras e pontos e riscos

caos

Postado por Ariana Fernandes às 14:47 0 comentários
PAZ!
Eu quero paz...
Tarde de Domingo ensolarada
Cheiro de café
Bolo quentinho saindo do forno
Cafuné...

PAZ?!
Risos em cada esquina
e só a lua é testumunha
Um passo de tango mal elaborado no meio fio

[...]

Silêncio.
Frio.
Wisky barato e música de fossa.
E ainda me pedem pra escrever?
Homenagear o amor em uma festa da sociedade?
Eu?
Cão sarnento, sem teto e sem tento.

"As velhinhas me detestam"

E tudo que me resta é o lero com a lata de biscoitos.
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Medo

Postado por Ariana Fernandes às 14:46 0 comentários
de Fabrício Carpinejar

"Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus aguentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada."

quarta-feira, março 6

Conto de Farsas

Postado por Ariana Fernandes às 23:49 0 comentários
Era uma vez, num dia cinza de Agosto (mas bem que podia ser Setembro), a Menina da Cabeça nas Nuvens e o Homem dos Olhos Sérios se encontraram pela primeira vez longe do mundo da distancia ética e dos personagens previamente criados. Ela vinda do país do Algodão-doce, lugar onde o coração vale mais que ouro e os carinhos são feitos na alma. Ele, andarilho de muitos universos, traz na bagagem um amontoado de traumas, dores, amores. E ela precisa de muito tato e atenção para lidar com ele; trata-o como a sua avó tratava a cristaleira.
Em meio à sutileza das obrigações desejavam-se, e fingindo ser sem querer, acabavam esbarrando nas palavras que se vestiam casuais. Aos poucos ela vai descobrindo o gosto de manga que permeia as palavras vindas dele. Tudo surgindo em batida lenta de violão, meio MPB meio Rock and Roll.
Ninguém ganhava deles na magia de brincar de representar. Ele pousava de homem-experiente-misterioso-sedutor, enquanto ela bancava a inocente Lolita. Se ele quisesse ela podia ser a sua Dulcinéia. E o “Ultimo Romance” não parava de tocar.
Nessa historia não há lobos, bruxas nem maçãs envenenadas. Não há atalhos tortuosos nem madrastas malvadas. Há os gigantes. Disfarçados de moinhos-de-vento, mas ainda gigantes! O encontro nunca aconteceu. São os desencontros que alinhavam esse enredo. Desencontros de poesia, mas ainda desencontros! E ela descobriu que os números impares são os números mais tristes.
Um dia, enquanto tentava se aquecer na lareira, a Menina da Cabeça nas Nuvens acordou com os gritos de quem um dia foi motivo de fazer festa com as palavras nos ares. Quando abriu a porta: Sangue. Todapartesangue. O Homem dos Olhos Sérios e seu coração velho. E suas dores. E seus amores. Só que do jeito que ele quer, ela não quer, não! E a pequena se apega em rezas, versos bonitos, cantoria solta e sorriso largo, porque ela só insiste no que é lindo, no que é puro, no que vem de dentro.
E assim, ele segue por um caminho de esquinas. Ela fica. Remenda. Costura. Cola o que sobrou. Faz dos pedaços, vitral. E pede, secretamente, em orações, que a estrada que ele escolheu trilhar dê em um mundo todo azul. E cheio de mágica. E cheio de flor.

E viveram cada qual com seu cada qual, pra sempre...

identidade

Postado por Ariana Fernandes às 23:49 0 comentários
Vou logo dizendo que acordei meio zonza e tomei uma decisão.E decidi que hoje não me daria à leitura. Não falaria de amor. E muito menos de poesia. E decidi não ler pra não correr o risco de ter que escrever. E assim, fugir de transpor meus absurdos ao narrar um discurso de funeral. Até tenho um pronto. E dessa vez, não engoli uma palavra. Não me atreveria. É um discurso comprometedor falando de você, grande amor corrompido, rasgado e gentilmente dilacerado. E seria ótimo se você morresse. Sua ausência eterna seria um balsamo para minha lucidez. Talvez eu chorasse. Talvez eu sorrisse ao ouvir oratória de gente que chora ás pitangas, penas, plumas e compaixão. E eu, alma rapina que sou, ainda ardendo de febre e paixão deixaria uma flor em seu corpo sem vida. E você faça o favor de levar pra cova todo esse amor que inventamos pra nós. Mas, você não morreu. Você não morre nunca. Respiro dormente e decidida a bolar outra estratégia menos falível pra não sair da cama e cair na sedução do teu riso. Eu odeio proibições, mas decretaria a partir de agora, sem culpa nenhuma, uma proibição pro teu sorriso. E agora, você deita em minha cama e me entrega seu corpo perfeito e rouba todos os meus jeitos de equilibrar sensualidade. Você começa dizer umas coisas que não me agradam, mas meu corpo me trai e responde em saliva minha negação. Ai, me perco. Perco minha identidade. Como de costume toda vez que você vem e me abraça. E me entrego em cacos. Pedaços de mim por todos os lados. Pedaços de alma, pedaços de dias, pedaços de tempos. E meu sentir, ainda em cacos calaria você por dias. Mas, você insiste. Você não cala, nem morre. Te odeio. E assumo. E minto na mesma voracidade que te desejo. E em nossa cama, não há drama, nem trama, nem teatro. E eu, qual dama honrosa de seu posto me entrego sem compromisso nem castidade e nem promessa de “nunca mais”. É disso que somos feitos. E nos tornamos isso: uma faísca de guerra em pleno carnaval. E eu que só queria a cura dessa febre que arde e destroça e adoece meu corpo inteiro dos pés aos fios de cabelo. E muito embora você não fale, cale – eu suplico e me denuncio qual fêmea no cio. E na entrega, entre risos, aceito sua fome de entender que homem meu é aquele que me desconhece. Busco o bicho que renego. E qual flor rara, desabrocho escancarada em alma, pele e fidelidade em tua boca de língua, dente e confissão.

domingo, março 3

Glory Box

Postado por Ariana Fernandes às 01:49 1 comentários



I'm so tired of playing

Como você vem, eu vou usar o meu melhor vestido. E os cabelos parecem querer seduzir o vento, só para se emaranhar nos cachos. Caminho na sua direção, e o andar parece surdo de escola de samba seguindo o compasso do coração. Sem mais delongas te beijo, tragando a alma. Pura vontade. E meus dedos rabiscam as dobras do teu corpo, começando pelo contorno das coxas, subindo até a virilha. Puro tesão.

For I've been a tempteress too long 

É madrugada, e eu quero me despir do meu melhor vestido.
Num movimento lento, de costas, livrando o vestido e olhando nos olhos.

So don't you stop being a man
Just take a little look from outside when you can
Sow a little tenderness

Eu não sei como você espirra ou como é que coça a barba quando está crescendo. Eu não sei o que gosta de comer no café da manhã, nem em quantos segundos vira um copo com água. Se para na metade do copo para respirar. E, se para na metade, se coloca o copo de volta na pia. E, se coloca o copo de volta na pia se me comeria ali mesmo, antes do segundo gole, se por acaso eu me enfiasse entre você e a pia, entre você e o copo, entre você e a sede, entre você e a fome.

For this is the beginning of forever and ever

Ritmo, saliva quente, corpo quente e teu olhar em transe olhando o meu. A boca desenhando o contorno.  Ritmo lento, descompassado, ritmo rápido. Mãos macias rascunhando meu corpo, meu tronco, minha coxa e minha bunda. Unha arranhando a pele. Teu corpo é tela para arte Frida Kahlo e para a poesia muda, molhada e morna que escorre dos meus lábios e percorre cada dobra. E ainda faço mágica com meus dedos e contorço todo o seu corpo, sua voz afoga em gozo e minha carne umida pede para ser beijada. E minha boca envolve com gula sua carne. Eu sinto suas pernas bambas enquanto faço tour com minha língua em busca do desejo imprevisível. Caminho com os dedos pela textura de sua pele. E beijo o lugar preciso, aquele onde o pescoço vira ombro. Feito vampira, revelo meus dentes que deslizam afiados pela sua espinha dorsal... mordo! E você me olha como quem fala sobre amor e suspira como quem discursa sobre tesão e se entrega como quem diz que somos um só...

Give me a reason to love you 

É, eu vou te engolir. Mesmo sem permissão.

Give me a reason to be... a woman

sem Aviso

Postado por Ariana Fernandes às 01:48 1 comentários

Amo-te
Menino que fostes
Homem que não sei quem és
Mas desconfio
E a garota impulsiva que fui,
agora calejada,
hesita diante da placa: "PARE!"
E o querer grita pra avançar
Só um pouquinho
Mas há os impecilhos,
as teias, os pedaços deixados pelo caminho.
Mas há os laços.
E o coração anseiando pelo abraço
que pode não chegar
Mas um dia virá
Debaixo de um céu lindo
Ou no meio de uma avenida chuvosa
beijo de filme, gurda-chuva cobrindo
Através da vitrine de um café em Paris
Você vê uma moça nervosa
Ou ao virar uma esquina
Um esbarrão, um carinho
Algum dia virá.

O melhor profeta do futuro é o passado.