Diante de mim, mulher, não sou.
Não quero ser.
És pai da menina que fui
do sono que nunca velaste
e das lágrimas que nunca enxugastes.
És pai da dor da menina que fui.
Ah, como queria ser de novo menina em teus braços esporádicos
e me abandonar admirando tuas mãos.
Uma gaita
Uma bicicleta
Um cachorro
Um sorriso
preso em uma fotografia
no rosto de uma bailarina
que abraçava o pai.
Ninguém te ensinou os caminhos, bem sei
mas não podemos passar a vida
nos escondendo da dor.
Nem deixar um rastro de dor
por todos os nossos caminhos
Pois os fantasmas do passado
ah, meu bem, esses nunca nos abandona.
A entrega é necessária
E é essa a beleza dos encontros.
E eu tô cansada de pisar em ovos.
Obrigada, pai!
Por tudo que não me destes.
quarta-feira, janeiro 15
quarta-feira, janeiro 1
a esperança equilibrista
Eu comprei flores e acendi incensos
E assisti o vento convidar minhas cortinas para dançar
o Bolero de Ravel
E eu sai a dançar também
Com o sol e as estrelas
Com a lua
Mas não consegui alcançar a leveza.
Por mais que eu me estique
Por mais que eu corra
Por mais que eu chore
Ela se afasta de mim
E o que sobra é um nó[s]
bem no meio do sossego.
Eu vivo nesse lugar de coisas incríveis
que não acontecem.
Enquanto isso, as coisas como são
acontecem sem mim.
Porque ele é esse compilado de complexos paradoxos
E tem o coração do tamanho dos meus sonhos
Com praia, cerca branca e jardins.
Mas por mais que eu me estique
Por mais que eu corra
Por mais que eu chore
Não consigo tocar.
E as flores, e os incensos
E o vento, e as cortinas
Nada disso tem sentido
Se não tem ele.
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poesia de guardanapo
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