sábado, novembro 9

sangue

Postado por Ariana Fernandes às 16:47 1 comentários
Meu pai vai ter uma filha

Meu pai
que nunca me teve
vai ter uma filha.
Vai acompanhar uma gestação
que nunca foi a minha.
Vai ver nascer aquela
que nunca fui eu.
Vai aplaudir os primeiros passos
que nunca foram os meus.
Vai ouvir as primeiras palavras
que nunca foram as minhas.
'pa-pá'.
Vai acalentar pesadelos
que nunca soube serem meus.
Vai segurar a bicicleta
que nunca aprendi a andar.
Vai secar lágrimas
que nunca escorreram pelo meu rosto.
Vai dar conselhos melhores do que
"Você não tem amigos.
Vá na minha que é a boa"

Meu pai
que nunca foi meu pai
vai, agora, ser pai.

Isso quer dizer que
eu vou ter uma irmã...
Eu vou ter uma irmã!
Que me importam as babaquices
e infantilidades
e cobranças
e magoas
e ausências?
Eu vou ter uma irmã, porra!

Peço a Deus
e aos astros,
aos santos
e a todos os orixás,
e a qualquer ser mistico, e divino,
e supremo, e maior que eu,
que me permita ter, de fato,
uma irmã!

Eu quero rolar na grama
com um coração que faz parte do meu.
Eu quero ensinar as caretas mais legais.
Eu quero segurar na mão pra atravessar a rua.
E eu quero que seja a mim que ela confesse
os mais vis segredos adolescentes.
Porque eu sou irmã, e cúmplice.
E eu vou amar
muito
porque eu já  amo.

Meu pai vai ser pai.
Mas se ele vacilar de novo,
ela vai ter uma irmã!

quinta-feira, outubro 10

Prece

Postado por Ariana Fernandes às 16:56 1 comentários
Deus
você conhece a minha capacidade de sonhar
mesmo acordada.

Eu fecho meus olhos e vejo.
A minha própria imagem
sentada em minha cama
com um livro no colo
lendo historias pra alguém
que eu não vi o sorriso ainda
que sequer tem sexo
mas que eu já amo tanto.

Eu consigo me ver passeando pelo parque
com o dobro do meu peso
aquelas roupas folgadas
a mão na barriga
cantarolando cantigas
de um mundo bom.

Eu sinto a alegria me invadir
quando uma mãozinha
tão linda e perfeita
segura o meu dedo
e aquele ser, que ainda é tão pequeno
se alimenta e se fortalece
da seiva que meu próprio corpo fábrica.

O mau-humor tão habitual
ao ser acordada inesperadamente
é substituído por um profundo afeto
ao ver uma criança
com cara de sono e lençol na mão
tão assustada por um pesadelo
se enfiar na minha cama.
E eu repito baixinho:
"Passou, meu anjo.
A mamãe tá aqui,
você tá em casa
e vai ficar tudo bem"

Meu coração se aperta
por meu bebê
já não ser um bebê
e eu engulo o ciume
e acalento suas primeiras dores adolescentes
suas primeiras lágrimas de amor.

É Domingo
meu rosto já não é mais o mesmo
minha casa já  não é mais a mesma
a mesa está posta
passei a manhã preparando
a sala, a mesa, o coração
a família da minha família
a minha família
vem almoçar.
Minha casa se encher de alegrias
e eu passo a tarde a estragar meus netos
e ensinar-lhes novas caretas.

Deus
Você é meu amigo, porra!
E eu tento, apesar de
todas as agruras da vida
ser o melhor que eu posso...

Deus
Por favor

Deus,
não me faz seca.
Desértica.

Deus,
Eu imploro

Deus
Não tire minha capacidade de gerar!


quarta-feira, outubro 9

declaração

Postado por Ariana Fernandes às 23:36 0 comentários
O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não.
 Mahatma Gandhi


Não é quem ele é, mas quem ele representa.
Foi por ele que eu desci ao inferno
Foi por ele que eu descobri que faz frio no fundo do poço.
Foi por ele, e só por ele, que eu bebi, e fumei, e chorei, e gritei.
Mas foi a ele, e só a ele, que eu amei!

O homem de lata ganhou um coração
e descobriu seus humanos sentimentos.
O homem de lata ta feliz,
e na fotografia, me sorri
pleno (?)
O homem de lata não existe mais.
E eu não sei mais qual é o personagem
Embora eu conheça o homem
e os olhos.
Eu não quero mais ser aquela
personagem, pessoa menina.
Mas eu já não sou.

Quero desbravar cervejas
e rasgar sorrisos
e colher conversas gostosas
Mas eu tenho medo.
Eu tenho medo...
"Agora. Mas tem que ser agora!"
Tornei a ouvir
e tremi, como se fosse ontem.
E eu não fui.
E eu sou agora personagem,
o personagem que não foi.
E ficou, parado, vendo as letrinhas subirem.
E o livro ser fechado.

E eu tenho medo.

Medo...

segunda-feira, setembro 23

[e]ternamente cultivado

Postado por Ariana Fernandes às 01:09 0 comentários
O coração é terra que ninguém vê. E dói.
Dói se sentir tão pequena,
quando sei que existem inúmeros mundos dentro de mim.
Invisível.
Quando eu era pequena e me sentia triste gostava brincar de ser invisível.
E me trancava no guarda-roupa.

E aí agora eu era a princesa do reino das águas-claras.
E aí agora eu era uma guerreira medieval.
E aí agora eu era uma super-heroína, com capa e tudo.

Agora o guarda-roupa encolheu.
Não cabe nem minhas roupas, imagine os meus sonhos...

Um dia me perguntaram por que eu me calo, e eu disse:
não, é só um grito.
Um anjo me falou que você se acostuma e vai vivendo.
É só?

A maneira como suportamos o vazio é o que determina se merecemos que ele se encha...

Nerdice Metalinguística

Postado por Ariana Fernandes às 01:07 0 comentários
Há uma linha tênue entre ilusão e realidade.
Homens podem sim voar
só não digam que isso parte de uma mente doentia.
Em clínicas há jardins.
Pássaros.
Borboletas.
O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu.
Ícaro, maluco, espera por mim.
Escrevo nos ares
com a tinta invisível dos sonhos.
Poderia escrever no teu corpo
aí dava pra apagar com a língua.
E eu faço questão de errar.
Tenho uma dupla personalidade
entre a ruiva boazinha e a Fênix.
Dupla personalidade = Esquizofrenia
Seria melhor se a gente pudesse viver o gibi...
Wolverine que era macho, man.

domingo, setembro 15

Foice

Postado por Ariana Fernandes às 21:58 0 comentários
Meu corpo tá te expurgando
Vômito
Febre
Suor
Você está saindo de mim
Por cada poro
onde antes havia plantado uma flor.
Meu coração sangra
E você, e rímel
escorrem por meu rosto.
Eu queria saber cruzar o seu deserto frio e lógico
Mas meu estômago ronca
E eu tô com fome de horizonte.
Eu odeio. E amo.
E odeio todas essas confusões bem resolvidas.
A solidão não é o mal dos séculos
Disto é a frieza responsável
Os pássaros migram no inverno...
É um outro dia.
É uma outra noite.
E eu choro.
E eu vomito.

quarta-feira, setembro 11

E por falar em saudade...

Postado por Ariana Fernandes às 22:50 1 comentários


Traz teu mar pro interior do meu sertão
Porque eu acho que é
motivo, razão, resposta
Tão eu fora de mim
E no final é só o que importa.
Né?
Ou não?
Quem, além de nós, poderá saber?
Se sou eu que amo teu caos
E o modo pateticamente lindo que você dança
E a pressão que a sua 'saboneteira' faz no meu rosto
quando eu quero me perder no seu abraço,
sem perceber que já me perdi
nos teus olhos
no teu sorriso
na tua voz
broto
maluco
O Meu Bem.
Se sou eu
(e só eu)
que não consigo dormir
imaginando...
E Vinicius não ajuda
Dizendo no meu ouvido o que sentir
Na noite, nos bares
Onde anda você?


sábado, setembro 7

pra você dar o nome

Postado por Ariana Fernandes às 21:18 1 comentários
eu não queria saber.
não queria!
nunca tinha pensando
em teu sorriso
emaranhado em outro sorriso
porque, desde a primeira vez 
que te vi
te quis
e desde então
você leva meu querer 
em teu bolso

sexta-feira, julho 19

bonfim

Postado por Ariana Fernandes às 00:02 0 comentários
Por fim sobraram alguns poucos cigarros sujos, uma vodka escondida no guarda-roupa e algumas palavras aprisionadas. O que tenho de melhor são elas: as palavras. Mas não as uso sempre. Guardo-as dentro de um quarto escuro, com a porta trancada e sem nenhuma janela. As vezes, vou até esse quarto e me tranco lá dentro. Eu e as palavras. Reviro-as, e vejo as que mais me agradam. Elas me dizem boas ilusões. E quase acredito no que elas insistem em sussurrar no meu ouvido. Ali, dentro desse quarto, sou o que quero ser. Sedenta pelo vício de ser tudo, sou rica de poesia. Sou o amor perdido. Sou o verso indeciso. Os cinzeiros cheios e o copo de bebida vazia. Sou a moça que chora na esquina. A mentira contada no pé do ouvido. A voz que grita no telefone. Sou o bandido sedento por roubar amor. Sou o desespero e principalmente o caos. Sou ninguém, e ao mesmo tempo sou todo mundo. Sou inclusive Você. Com seus fantasmas, e sua dor baixinha entre os cobertores na madrugada vazia. Sou o seu trabalho, as suas frases feitas, o ar que você respira e a sua insônia. Você é as cores e eu sou o cinza que te mancha. Ou vice-versa. Sou a sua música preferida, a sua nostalgia. Sou você, e você sou eu. Em frações de segundos você não é nada além de mim e eu sou tudo. Eu sou o mundo. Sou o texto, e sou a mão manchada de tinta esfregando um vocabulário imundo na cara de quem lê. E através desse quarto onde guardo essas palavras, sou nada além de alguém com alguns poucos cigarros sujos, um resto de vodka, algumas palavras aprisionadas e alguns passos pra lugar nenhum. Sou também o fim.


Enfim...

domingo, abril 28

Postado por Ariana Fernandes às 19:49 2 comentários

Eu não vou dizer o que eu quero dizer
Pois não cabe

Mas não vou me calar
É madrugada

[...]

Foi só você sorrir
e eu aprendi a torcer
e enlouquecer quando é jogo do Timão

Foi só você sorrir
pra fazer o mundo parar de girar
em um show do Cabruêra

Foi só você sorrir...

Eu vou buscar a lua
pra combinar com as duas estrelas dos teus olhos
É só você sorrir

Vou segurar tua mão com tanta força
pra ninguém nunca mais ter que partir
É só você sorrir

Vou decorar esses versinhos pobres
e escrever na tua porta com giz
É só você sorrir

É só você sorrir...

segunda-feira, abril 22

Compasso

Postado por Ariana Fernandes às 20:29 1 comentários
Tic Tac Tic Tac

Observo
os teus passos compassados
Um segundo, um tic
Mais um, um tac
Bem ali, só o eco da batida
Verdade?

Tum Tum Tum Tum Tum Tum

- Alô?
-Tá ocupado!
- Então tá, amigo...

Tum Tum Tum Tum Tum

Será sempre meio metade?
Entrego-me ao tempo

Tic Tac Tic Tac Tic Tac

[...]

quarta-feira, abril 17

tão louco quanto sempre fui

Postado por Ariana Fernandes às 22:38 0 comentários
O cigarro acabou ao mesmo tempo do capitulo 10 daquele livro

Eu tô ficando louca
E nem posso dizer que a culpa é daquele puto...
A paixão me enlouquece um pouquinho todo tempo.
Engraçado como eu sempre acabo absorvendo um pouco do autor que eu tô lendo
Fui até a cozinha e preparei uma dose de scotch
Eu tô ficando louca. E a culpa é daquele puto
Do autor. Não do rapaz.

Não do rapaz...

De olhos que me sorriem moleques
Em um rosto de uma expressão tão madura
Em um rosto de uma expressão tão infantil
Ele é um universo
E um dos meus sonhos de criança era ser astronauta.
(além de princesa. heroína. pirata. sonhadora.)
Sonhadores.
Então crescemos, para o mundo exterior
Então crescemos, em nós
E, contrariando todas as leis da astronomia,
o mundo gira com a única finalidade de que os universos se choquem
Mais uma vez.

Mais uma vez...

E,

Postado por Ariana Fernandes às 22:34 1 comentários
Uma quase sábado, um quase fim de ano, chuva fininha, gente indo e vindo, buzina, carro e qualquer caos urbano distante de nós dois. Aqui dentro, um restinho de você. Uma sombrinha de tua educação fingida, umas gotas pingadas de sonhos tolos e qualquer lembrança vaga do seu riso. Nem tanto la fora e muito menos aqui dentro. Conversa mole, café, quinquilharia verbais, jeans surrado, tempo bom ao frio e vento. E você me pergunta se eu estou cansada pra sair com você? cansada, eu? Imagina. Sou inesgotável. Passei o dia inteiro tentando me livrar de sérios problemas, papelada chata e de qualquer lembrança tola que trouxesse você de volta. E tudo isso pouco te importa. E seu cabelo fica melhor despenteado. E você, culpando o vento. E eu, aceitando suas desculpas. Eu aqui, corpo aberto, esperando o abraço e você falando pelos cotovelos. Que tal o silêncio e uma carona cheia de desejos? E você me olha cheio de vontade, como quem mendiga por um pedaço de pão. E eu só tenho vinho. E quanto tempo será preciso pra se viver exato o tempo inteiro? E são tantas as perguntas que me perdôo diante do seu movimento preciso. As horas martelam o relógio e continuo interrogativa. Me assumo e desisto das respostas. 

Odeio flerte e a vadiagem do lenga lenga do não dizer, do parar numa esquina qualquer pra não se molhar na chuva. Olha, vou pra casa, tomar um banho, usar outro sabonete, outro perfume, outro batom e ai você vai ver a minha outra face. Uma que você nunca viu. E pronto. Novinha em folha. Com outros cheiros, outros sabores, ensaiando outros sorrisos, outras metáforas. 

Há escolhas. E essa é a minha.

domingo, abril 14

sobre não ser comida pelos Bantos

Postado por Ariana Fernandes às 14:27 0 comentários
Eu existo.
Você existe.
E existir é toda a beleza do universo.
É onde reside a felicidade de Pequena Flor.

terça-feira, abril 2

Sem Título

Postado por Ariana Fernandes às 14:49 0 comentários
Brincadeiras bobas, e palavras casuais
- Vem, a vista lá de cima é mais bonita!
Nem chegaram até lá em cima,
Os pés já se encontram meio que sem querer,
e os pêlos do braço dele fazem aquela leve cócega ao encontrar os dela.
-Vem!
Ele a toma pela mão e a guia
Transboradaram.
Talvez porque no escuro a nudez é menos crua.
e num repente,
os olhos quase sempre mudos esparramaram poesia pelo chão.


Nomeei-lhe assim
Desta coisa sem nome
Pois não tinha título algum
Que pudesse lhe dar
Rabisquei-lhe uns traços
E lhe fiz de balbucias em verbos
Uns versos sem honras
Sem título ou mérito
Só pra não perder o hábito
De me desfazer
Em letras e pontos e riscos

caos

Postado por Ariana Fernandes às 14:47 0 comentários
PAZ!
Eu quero paz...
Tarde de Domingo ensolarada
Cheiro de café
Bolo quentinho saindo do forno
Cafuné...

PAZ?!
Risos em cada esquina
e só a lua é testumunha
Um passo de tango mal elaborado no meio fio

[...]

Silêncio.
Frio.
Wisky barato e música de fossa.
E ainda me pedem pra escrever?
Homenagear o amor em uma festa da sociedade?
Eu?
Cão sarnento, sem teto e sem tento.

"As velhinhas me detestam"

E tudo que me resta é o lero com a lata de biscoitos.
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Medo

Postado por Ariana Fernandes às 14:46 0 comentários
de Fabrício Carpinejar

"Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus aguentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada."

quarta-feira, março 6

Conto de Farsas

Postado por Ariana Fernandes às 23:49 0 comentários
Era uma vez, num dia cinza de Agosto (mas bem que podia ser Setembro), a Menina da Cabeça nas Nuvens e o Homem dos Olhos Sérios se encontraram pela primeira vez longe do mundo da distancia ética e dos personagens previamente criados. Ela vinda do país do Algodão-doce, lugar onde o coração vale mais que ouro e os carinhos são feitos na alma. Ele, andarilho de muitos universos, traz na bagagem um amontoado de traumas, dores, amores. E ela precisa de muito tato e atenção para lidar com ele; trata-o como a sua avó tratava a cristaleira.
Em meio à sutileza das obrigações desejavam-se, e fingindo ser sem querer, acabavam esbarrando nas palavras que se vestiam casuais. Aos poucos ela vai descobrindo o gosto de manga que permeia as palavras vindas dele. Tudo surgindo em batida lenta de violão, meio MPB meio Rock and Roll.
Ninguém ganhava deles na magia de brincar de representar. Ele pousava de homem-experiente-misterioso-sedutor, enquanto ela bancava a inocente Lolita. Se ele quisesse ela podia ser a sua Dulcinéia. E o “Ultimo Romance” não parava de tocar.
Nessa historia não há lobos, bruxas nem maçãs envenenadas. Não há atalhos tortuosos nem madrastas malvadas. Há os gigantes. Disfarçados de moinhos-de-vento, mas ainda gigantes! O encontro nunca aconteceu. São os desencontros que alinhavam esse enredo. Desencontros de poesia, mas ainda desencontros! E ela descobriu que os números impares são os números mais tristes.
Um dia, enquanto tentava se aquecer na lareira, a Menina da Cabeça nas Nuvens acordou com os gritos de quem um dia foi motivo de fazer festa com as palavras nos ares. Quando abriu a porta: Sangue. Todapartesangue. O Homem dos Olhos Sérios e seu coração velho. E suas dores. E seus amores. Só que do jeito que ele quer, ela não quer, não! E a pequena se apega em rezas, versos bonitos, cantoria solta e sorriso largo, porque ela só insiste no que é lindo, no que é puro, no que vem de dentro.
E assim, ele segue por um caminho de esquinas. Ela fica. Remenda. Costura. Cola o que sobrou. Faz dos pedaços, vitral. E pede, secretamente, em orações, que a estrada que ele escolheu trilhar dê em um mundo todo azul. E cheio de mágica. E cheio de flor.

E viveram cada qual com seu cada qual, pra sempre...

identidade

Postado por Ariana Fernandes às 23:49 0 comentários
Vou logo dizendo que acordei meio zonza e tomei uma decisão.E decidi que hoje não me daria à leitura. Não falaria de amor. E muito menos de poesia. E decidi não ler pra não correr o risco de ter que escrever. E assim, fugir de transpor meus absurdos ao narrar um discurso de funeral. Até tenho um pronto. E dessa vez, não engoli uma palavra. Não me atreveria. É um discurso comprometedor falando de você, grande amor corrompido, rasgado e gentilmente dilacerado. E seria ótimo se você morresse. Sua ausência eterna seria um balsamo para minha lucidez. Talvez eu chorasse. Talvez eu sorrisse ao ouvir oratória de gente que chora ás pitangas, penas, plumas e compaixão. E eu, alma rapina que sou, ainda ardendo de febre e paixão deixaria uma flor em seu corpo sem vida. E você faça o favor de levar pra cova todo esse amor que inventamos pra nós. Mas, você não morreu. Você não morre nunca. Respiro dormente e decidida a bolar outra estratégia menos falível pra não sair da cama e cair na sedução do teu riso. Eu odeio proibições, mas decretaria a partir de agora, sem culpa nenhuma, uma proibição pro teu sorriso. E agora, você deita em minha cama e me entrega seu corpo perfeito e rouba todos os meus jeitos de equilibrar sensualidade. Você começa dizer umas coisas que não me agradam, mas meu corpo me trai e responde em saliva minha negação. Ai, me perco. Perco minha identidade. Como de costume toda vez que você vem e me abraça. E me entrego em cacos. Pedaços de mim por todos os lados. Pedaços de alma, pedaços de dias, pedaços de tempos. E meu sentir, ainda em cacos calaria você por dias. Mas, você insiste. Você não cala, nem morre. Te odeio. E assumo. E minto na mesma voracidade que te desejo. E em nossa cama, não há drama, nem trama, nem teatro. E eu, qual dama honrosa de seu posto me entrego sem compromisso nem castidade e nem promessa de “nunca mais”. É disso que somos feitos. E nos tornamos isso: uma faísca de guerra em pleno carnaval. E eu que só queria a cura dessa febre que arde e destroça e adoece meu corpo inteiro dos pés aos fios de cabelo. E muito embora você não fale, cale – eu suplico e me denuncio qual fêmea no cio. E na entrega, entre risos, aceito sua fome de entender que homem meu é aquele que me desconhece. Busco o bicho que renego. E qual flor rara, desabrocho escancarada em alma, pele e fidelidade em tua boca de língua, dente e confissão.

domingo, março 3

Glory Box

Postado por Ariana Fernandes às 01:49 1 comentários



I'm so tired of playing

Como você vem, eu vou usar o meu melhor vestido. E os cabelos parecem querer seduzir o vento, só para se emaranhar nos cachos. Caminho na sua direção, e o andar parece surdo de escola de samba seguindo o compasso do coração. Sem mais delongas te beijo, tragando a alma. Pura vontade. E meus dedos rabiscam as dobras do teu corpo, começando pelo contorno das coxas, subindo até a virilha. Puro tesão.

For I've been a tempteress too long 

É madrugada, e eu quero me despir do meu melhor vestido.
Num movimento lento, de costas, livrando o vestido e olhando nos olhos.

So don't you stop being a man
Just take a little look from outside when you can
Sow a little tenderness

Eu não sei como você espirra ou como é que coça a barba quando está crescendo. Eu não sei o que gosta de comer no café da manhã, nem em quantos segundos vira um copo com água. Se para na metade do copo para respirar. E, se para na metade, se coloca o copo de volta na pia. E, se coloca o copo de volta na pia se me comeria ali mesmo, antes do segundo gole, se por acaso eu me enfiasse entre você e a pia, entre você e o copo, entre você e a sede, entre você e a fome.

For this is the beginning of forever and ever

Ritmo, saliva quente, corpo quente e teu olhar em transe olhando o meu. A boca desenhando o contorno.  Ritmo lento, descompassado, ritmo rápido. Mãos macias rascunhando meu corpo, meu tronco, minha coxa e minha bunda. Unha arranhando a pele. Teu corpo é tela para arte Frida Kahlo e para a poesia muda, molhada e morna que escorre dos meus lábios e percorre cada dobra. E ainda faço mágica com meus dedos e contorço todo o seu corpo, sua voz afoga em gozo e minha carne umida pede para ser beijada. E minha boca envolve com gula sua carne. Eu sinto suas pernas bambas enquanto faço tour com minha língua em busca do desejo imprevisível. Caminho com os dedos pela textura de sua pele. E beijo o lugar preciso, aquele onde o pescoço vira ombro. Feito vampira, revelo meus dentes que deslizam afiados pela sua espinha dorsal... mordo! E você me olha como quem fala sobre amor e suspira como quem discursa sobre tesão e se entrega como quem diz que somos um só...

Give me a reason to love you 

É, eu vou te engolir. Mesmo sem permissão.

Give me a reason to be... a woman

sem Aviso

Postado por Ariana Fernandes às 01:48 1 comentários

Amo-te
Menino que fostes
Homem que não sei quem és
Mas desconfio
E a garota impulsiva que fui,
agora calejada,
hesita diante da placa: "PARE!"
E o querer grita pra avançar
Só um pouquinho
Mas há os impecilhos,
as teias, os pedaços deixados pelo caminho.
Mas há os laços.
E o coração anseiando pelo abraço
que pode não chegar
Mas um dia virá
Debaixo de um céu lindo
Ou no meio de uma avenida chuvosa
beijo de filme, gurda-chuva cobrindo
Através da vitrine de um café em Paris
Você vê uma moça nervosa
Ou ao virar uma esquina
Um esbarrão, um carinho
Algum dia virá.

O melhor profeta do futuro é o passado.

sábado, janeiro 12

de Marco

Postado por Ariana Fernandes às 01:33 0 comentários
Ouvindo Belle & Sebastian ali!  





 Há muito tempo não tinha texto, nem vídeo, nem palavra escrita, muito menos dita. Só o silêncio. Silêncio de copos de whisky vazios e cinzeiros cheios. Silêncios de brigadeiro de panela e Clementine e Joel, e Amelie. Era um silêncio que esmagava o corpo. Uma saudade que ardia, fisicamente. Um amor empoeirado. Na minha mochila de viagem levava apenas pedaços de memórias arranhadas: o colchão, a pele, as ruas, o banco na beira-mar, o cheiro, as escadas, nós dois.  Lembro da primeira vez que o vi. Lindo com aqueles óculos de Harry Potter e aquele ar de quem não leva a vida muito à serio. No auge dos meus quinze anos, se pedissem para descrever o príncipe encantado e portassem papel e caneta, provavelmente sairia um retrato falado desse rapaz. Veio o encontro. O beijo, o sexo, o primeiro orgasmo. A conversa sobre sorvete. Mesmo se ele fizesse uns dreds no cabelo e fosse viver vendendo pulseirinha na rua, ou se tirasse a barba e se transformasse em um executivo engravatado, ainda assim, seria o príncipe encantado dos meus quinze anos. E esse quadro nunca será retirado da parede da memória.

[...]

E de repente, não mais que de repente.
Amarro minhas duvidas junto com os cabelos e escrevo na parede com giz de cera vermelho uma frase, uma fala, um filme, que rasga meu pulso deixando muito à mostra.
"É isso, Joel. Logo, logo estará terminado"
O tempo não perdoa nunca.
E a vida passa.
E os sentimentos, mesmo guardados, mesmo tão cuidadosamente ajeitados em um coração bagunçado, também ficam com gosto de geladeira. E comida requentada nunca é boa.
O que marcou na minha pele não se lava.
A voz ecoando na cabeça. Falaríamos de amor numa próxima cama?


Não é um fim. É apenas o começo do resto. A perda da ilusão. A queda de um ícone. O príncipe indo embora, enquanto o cavalo branco vai deixando um rastro de merda.







Mas a verdade verdadeira, que ninguém sabe a não ser os passarinhos, é que o príncipe não vai embora. Porque o que se infiltra no lado de dentro, não saí nunca mais.
E o menino vai continuar tendo sorriso doce. Óculos redondo e olhar sapeca.
E vai sempre falar de sorvete.
O carinho está em quem lembra dos detalhes.
Não importa o tempo, as mudanças no mundo ou na alma.
O que é de verdade, fica!

O diabo mora na maçaneta

Postado por Ariana Fernandes às 01:04 0 comentários
"Ele mora sim, meu bem, eu já te explico.
Antes eu quero dizer que senti saudades, saudades como há muito não sentia. Dizer que muita coisa mudou e eu também. Estou de cabelo novo, roupa nova, amor novo, casa nova. E você continua aí, me parecendo tão ou mais igual do que era antes.
Saudades de ter saudades da véspera de suas idas e voltas, porque o Diabo também mora na véspera e nos detalhes, mas disso você já sabe.
Mas agora é tudo diferente, ano novo, novas promessas, amigos novos até.
E você aí, olhando pra mim, como quem enxerga o avesso de minha alma. Você que vai ficar aí pra sempre, sem que eu possa te tocar, sem que eu queira a fundo te tocar. E você me pergunta: o que tudo isso tem a ver?
Eu te digo, é fácil: você vai e cada vez que volta bagunça minha vida, desarruma o que tá ajeitado e suja o que em mim está limpo.
Com as mãos sujas, um menino entra no banheiro, gira a maçaneta e lava as mãos. Quando ele sai, toca de novo na maçaneta, sujando as mãos.
E nesse jogo de suja-limpa o menino toca a vida dele. É assim com você: vou tocando a vida entre suas idas e vindas, seus altos e baixos.
E sabe do mais interessante? É que no futuro, depois que a porta estiver carcomida de cupins e as dobradiças de metal estiverem enferrujadas, quando nem o banheiro e nem o menino existirem mais nesse mundo, a maçaneta ainda vai estar ali. Imóvel, suja e eterna."


Bruno Carvalho é blogueiro (e é "tudo" que eu sei).