quarta-feira, março 6

identidade

Postado por Ariana Fernandes às 23:49
Vou logo dizendo que acordei meio zonza e tomei uma decisão.E decidi que hoje não me daria à leitura. Não falaria de amor. E muito menos de poesia. E decidi não ler pra não correr o risco de ter que escrever. E assim, fugir de transpor meus absurdos ao narrar um discurso de funeral. Até tenho um pronto. E dessa vez, não engoli uma palavra. Não me atreveria. É um discurso comprometedor falando de você, grande amor corrompido, rasgado e gentilmente dilacerado. E seria ótimo se você morresse. Sua ausência eterna seria um balsamo para minha lucidez. Talvez eu chorasse. Talvez eu sorrisse ao ouvir oratória de gente que chora ás pitangas, penas, plumas e compaixão. E eu, alma rapina que sou, ainda ardendo de febre e paixão deixaria uma flor em seu corpo sem vida. E você faça o favor de levar pra cova todo esse amor que inventamos pra nós. Mas, você não morreu. Você não morre nunca. Respiro dormente e decidida a bolar outra estratégia menos falível pra não sair da cama e cair na sedução do teu riso. Eu odeio proibições, mas decretaria a partir de agora, sem culpa nenhuma, uma proibição pro teu sorriso. E agora, você deita em minha cama e me entrega seu corpo perfeito e rouba todos os meus jeitos de equilibrar sensualidade. Você começa dizer umas coisas que não me agradam, mas meu corpo me trai e responde em saliva minha negação. Ai, me perco. Perco minha identidade. Como de costume toda vez que você vem e me abraça. E me entrego em cacos. Pedaços de mim por todos os lados. Pedaços de alma, pedaços de dias, pedaços de tempos. E meu sentir, ainda em cacos calaria você por dias. Mas, você insiste. Você não cala, nem morre. Te odeio. E assumo. E minto na mesma voracidade que te desejo. E em nossa cama, não há drama, nem trama, nem teatro. E eu, qual dama honrosa de seu posto me entrego sem compromisso nem castidade e nem promessa de “nunca mais”. É disso que somos feitos. E nos tornamos isso: uma faísca de guerra em pleno carnaval. E eu que só queria a cura dessa febre que arde e destroça e adoece meu corpo inteiro dos pés aos fios de cabelo. E muito embora você não fale, cale – eu suplico e me denuncio qual fêmea no cio. E na entrega, entre risos, aceito sua fome de entender que homem meu é aquele que me desconhece. Busco o bicho que renego. E qual flor rara, desabrocho escancarada em alma, pele e fidelidade em tua boca de língua, dente e confissão.

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