quarta-feira, março 6

Conto de Farsas

Postado por Ariana Fernandes às 23:49
Era uma vez, num dia cinza de Agosto (mas bem que podia ser Setembro), a Menina da Cabeça nas Nuvens e o Homem dos Olhos Sérios se encontraram pela primeira vez longe do mundo da distancia ética e dos personagens previamente criados. Ela vinda do país do Algodão-doce, lugar onde o coração vale mais que ouro e os carinhos são feitos na alma. Ele, andarilho de muitos universos, traz na bagagem um amontoado de traumas, dores, amores. E ela precisa de muito tato e atenção para lidar com ele; trata-o como a sua avó tratava a cristaleira.
Em meio à sutileza das obrigações desejavam-se, e fingindo ser sem querer, acabavam esbarrando nas palavras que se vestiam casuais. Aos poucos ela vai descobrindo o gosto de manga que permeia as palavras vindas dele. Tudo surgindo em batida lenta de violão, meio MPB meio Rock and Roll.
Ninguém ganhava deles na magia de brincar de representar. Ele pousava de homem-experiente-misterioso-sedutor, enquanto ela bancava a inocente Lolita. Se ele quisesse ela podia ser a sua Dulcinéia. E o “Ultimo Romance” não parava de tocar.
Nessa historia não há lobos, bruxas nem maçãs envenenadas. Não há atalhos tortuosos nem madrastas malvadas. Há os gigantes. Disfarçados de moinhos-de-vento, mas ainda gigantes! O encontro nunca aconteceu. São os desencontros que alinhavam esse enredo. Desencontros de poesia, mas ainda desencontros! E ela descobriu que os números impares são os números mais tristes.
Um dia, enquanto tentava se aquecer na lareira, a Menina da Cabeça nas Nuvens acordou com os gritos de quem um dia foi motivo de fazer festa com as palavras nos ares. Quando abriu a porta: Sangue. Todapartesangue. O Homem dos Olhos Sérios e seu coração velho. E suas dores. E seus amores. Só que do jeito que ele quer, ela não quer, não! E a pequena se apega em rezas, versos bonitos, cantoria solta e sorriso largo, porque ela só insiste no que é lindo, no que é puro, no que vem de dentro.
E assim, ele segue por um caminho de esquinas. Ela fica. Remenda. Costura. Cola o que sobrou. Faz dos pedaços, vitral. E pede, secretamente, em orações, que a estrada que ele escolheu trilhar dê em um mundo todo azul. E cheio de mágica. E cheio de flor.

E viveram cada qual com seu cada qual, pra sempre...

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