Diante de mim, mulher, não sou.
Não quero ser.
És pai da menina que fui
do sono que nunca velaste
e das lágrimas que nunca enxugastes.
És pai da dor da menina que fui.
Ah, como queria ser de novo menina em teus braços esporádicos
e me abandonar admirando tuas mãos.
Uma gaita
Uma bicicleta
Um cachorro
Um sorriso
preso em uma fotografia
no rosto de uma bailarina
que abraçava o pai.
Ninguém te ensinou os caminhos, bem sei
mas não podemos passar a vida
nos escondendo da dor.
Nem deixar um rastro de dor
por todos os nossos caminhos
Pois os fantasmas do passado
ah, meu bem, esses nunca nos abandona.
A entrega é necessária
E é essa a beleza dos encontros.
E eu tô cansada de pisar em ovos.
Obrigada, pai!
Por tudo que não me destes.
quarta-feira, janeiro 15
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