domingo, janeiro 25

Carolina

Postado por Ariana Fernandes às 11:49 0 comentários


Os meus olhos fundos
guardam tanta dor
a dor de todo esse mundo.

Um passaro azul depressivo
que se encolhe em sua gaiola-coração
por medo de voar.
Ele voava.
E cantava.
E era suficiente para fazer um homem chorar.
Mas eu não choro mais. E você?

Houve uma época que era brisa fresca
e poesia.
Mas de repente
não mais que de repente
Foice.
E fuga.
E sangue.
todapartesangue.

O tempo passa na janela, Carolina.
E é hora de voltar a florir.
Põe teu vestido estampado
cheirando a guardado
e vai pra rua sambar.

domingo, abril 20

Ascendente em Peixes

Postado por Ariana Fernandes às 14:44 0 comentários
Tudo começou com uma caneca caindo ao chão e se partindo em mil pedaços
De repente começou a chover
Não era uma chuva bonita e doce
Dessas em que se corre pelo jardim
Meio correndo, meio voando
E depois
Com cobertor e café
Se encolhe na varanda para assistir o arco-irís
Não.
Não era dessas.
Era daquelas
Com trovões e crianças escondidas embaixo da cama
E eu falei:
"não vai agora.
Não me deixa aqui.
Pela chuva, e os trovões, e as crianças
Não vai."
Mas ele não escutou
E saiu batendo os pés em direção ao sol.

sábado, março 8

carna(va)l

Postado por Ariana Fernandes às 14:11 0 comentários
Se soltar o meu querer
na rodoviária sozinho
sozinho ele encontra o caminho
da tua casa.

Se deixar o meu querer
ele vai fazer morada
se encher de sanduíche e cevada
sob as dobras do lençol.

Tadinho do meu querer!
Alguém avisa que é pra sempre carnaval...

terça-feira, março 4

sentimentos bolha de sabão

Postado por Ariana Fernandes às 21:36 1 comentários
Eu preciso de um abraço-abrigo
Eu preciso do teu abraço abrigo
Eu preciso passar o dedo no V do teu cabelo
e observar o caos se acalmar.
Sê inteiro
E me deixa beijar o teu inteiro
Falemos de amores
e paixões
e porquês
E assistamos ao espetáculo de dois arco-iris

quarta-feira, janeiro 15

desaba(fo)

Postado por Ariana Fernandes às 20:56 0 comentários
Diante de mim, mulher, não sou.
Não quero ser.
És pai da menina que fui
do sono que nunca velaste
e das lágrimas que nunca enxugastes.

És pai da dor da menina que fui.

Ah, como queria ser de novo menina em teus braços esporádicos
e me abandonar admirando tuas mãos.

Uma gaita
Uma bicicleta
Um cachorro
Um sorriso
preso em uma fotografia
no rosto de uma bailarina
que abraçava o pai.

Ninguém te ensinou os caminhos, bem sei
mas não podemos passar a vida
nos escondendo da dor.
Nem deixar um rastro de dor
por todos os nossos caminhos
Pois os fantasmas do passado
ah, meu bem, esses nunca nos abandona.

A entrega é necessária
E é essa a beleza dos encontros.
E eu tô cansada de pisar em ovos.

Obrigada, pai!
Por tudo que não me destes.

quarta-feira, janeiro 1

a esperança equilibrista

Postado por Ariana Fernandes às 20:05 2 comentários


Eu comprei flores e acendi incensos
Eu pus música
E assisti o vento convidar minhas cortinas para dançar
o Bolero de Ravel
E eu sai a dançar também
Com o sol e as estrelas
Com a lua
Mas não consegui alcançar a leveza.

Por mais que eu me estique
Por mais que eu corra
Por mais que eu chore
Ela se afasta de mim
E o que sobra é um nó[s]
bem no meio do sossego.

Eu vivo nesse lugar de coisas incríveis
que não acontecem. 
Enquanto isso, as coisas como são
acontecem sem mim.

Porque ele é esse compilado de complexos paradoxos
E tem o coração do tamanho dos meus sonhos
Com praia, cerca branca e jardins.

Mas por mais que eu me estique
Por mais que eu corra
Por mais que eu chore
Não consigo tocar.

E as flores, e os incensos
E o vento, e as cortinas
Nada disso tem sentido
Se não tem ele.

sábado, novembro 9

sangue

Postado por Ariana Fernandes às 16:47 1 comentários
Meu pai vai ter uma filha

Meu pai
que nunca me teve
vai ter uma filha.
Vai acompanhar uma gestação
que nunca foi a minha.
Vai ver nascer aquela
que nunca fui eu.
Vai aplaudir os primeiros passos
que nunca foram os meus.
Vai ouvir as primeiras palavras
que nunca foram as minhas.
'pa-pá'.
Vai acalentar pesadelos
que nunca soube serem meus.
Vai segurar a bicicleta
que nunca aprendi a andar.
Vai secar lágrimas
que nunca escorreram pelo meu rosto.
Vai dar conselhos melhores do que
"Você não tem amigos.
Vá na minha que é a boa"

Meu pai
que nunca foi meu pai
vai, agora, ser pai.

Isso quer dizer que
eu vou ter uma irmã...
Eu vou ter uma irmã!
Que me importam as babaquices
e infantilidades
e cobranças
e magoas
e ausências?
Eu vou ter uma irmã, porra!

Peço a Deus
e aos astros,
aos santos
e a todos os orixás,
e a qualquer ser mistico, e divino,
e supremo, e maior que eu,
que me permita ter, de fato,
uma irmã!

Eu quero rolar na grama
com um coração que faz parte do meu.
Eu quero ensinar as caretas mais legais.
Eu quero segurar na mão pra atravessar a rua.
E eu quero que seja a mim que ela confesse
os mais vis segredos adolescentes.
Porque eu sou irmã, e cúmplice.
E eu vou amar
muito
porque eu já  amo.

Meu pai vai ser pai.
Mas se ele vacilar de novo,
ela vai ter uma irmã!